Quando fazemos um estoque guardamos algo que está em excesso ou algo que necessitamos no futuro e precisamos preservar. No caso do carbono (C), quando utilizamos o termo ‘estocagem’ não estamos necessariamente guardando o carbono para necessidades futuras, mas sim preservando a vida ao mantê-lo sob os cuidados da natureza. Queremos mantê-lo preso para que ele não saia por aí na atmosfera causando danos e aumentando o efeito estufa.
Estocagem ou sequestro de carbono, mas afinal, porque tanta preocupação com este elemento químico? Se ele é parte do processo de fotossíntese das plantas não deveria ser o mocinho?
Na COP-26 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021), último encontro mundial de líderes e especialistas do clima ocorrido em Glasgow, na Escócia, o carbono foi protagonista e também vilão de uma história de luta contra o aquecimento global que parece não ter fim.
De fato, o carbono na atmosfera age como os piores vilões das histórias em quadrinho, mas ele não vai parar lá sozinho. É a ação do homem na Terra que libera esse excesso de carbono para o ambiente e o único lugar que pode guardá-lo com segurança é na natureza.
A história do carbono: de mocinho a vilão
O carbono é um elemento naturalmente presente na natureza que pode ser encontrado armazenado nos oceanos, e também fixado nas plantas e no solo. Esses dois últimos são considerados atualmente como um grande sumidouro de carbono. A transformação do nosso personagem em vilão se dá justamente quando ele sai do seu ambiente de segurança – a natureza – e é liberado para a atmosfera. Isso não acontece por acaso. É o homem que participa ativamente desse processo.
Os oceanos são os maiores reservatórios de carbono do planeta. Reservas enormes de dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4), chamados de hidratos, estão espalhadas pelo fundo do mar de todo o planeta. Elas aprisionam os poderosos gases de efeito estufa, impedindo-os de escapar para a atmosfera. Se o aquecimento da água do mar derreter as calotas de hidratos, por exemplo, existe o perigo de os oceanos se tornarem grandes emissores de carbono, com graves consequências para as alterações climáticas e o aumento do nível do mar.
No ambiente terrestre as plantas, como parte da fotossíntese, absorvem o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e transformam em açúcar, amido ou até mesmo em celulose, usados como fonte de energia e próprio desenvolvimento .
O carbono é armazenado e liberado continuamente dependendo da planta e da fase de sua vida naquele tempo. Ao contrário, uma queimada em uma floresta libera rapidamente o carbono absorvido para a atmosfera.
Já no solo, naturalmente possuímos uma grande quantidade de carbono armazenado, sendo que seu acúmulo/aumento se dará de forma lenta e gradual por meio da deterioração do material orgânico. Os combustíveis fósseis, que possuem uma elevada concentração de carbono, são o resultado dessa decomposição que foi se acumulando no interior da superfície terrestre.
A interferência humana sobre acúmulo de carbono no solo ocorre quando interferimos no clima, que afeta o processo natural de decomposição e mineralização, e na quantidade e qualidade da matéria orgânica, principalmente. Quando retiramos o petróleo e o carvão mineral do solo e queimamos. Nesse caso, grande parte das moléculas de carbono que estavam armazenadas na superfície agora são liberadas na atmosfera.
As ações humanas e o desequilíbrio no ciclo do carbono
Quando liberamos o carbono que estava retido nos oceanos, nas plantas ou no solo para o ambiente, estamos alterando o equilíbrio natural do planeta. O carbono na atmosfera excede a quantidade que pode ser absorvida pelas plantas e algas, o que resulta numa concentração elevada de gás carbônico na atmosfera.
Sem ter onde ficar, o carbono vai procurar novos ares cada vez mais distantes e o que ele encontra? Sim, a camada de ozônio.
A camada de ozônio (O3) é a responsável pela proteção da Terra dos raios ultravioletas, porém o CO2 presente nas camadas mais elevadas da atmosfera é decomposto por esses raios e suas moléculas livres passam a reagir com o ozônio transformando-o em oxigênio. Logo, a menor presença de O3 permite a maior incidência de raios ultravioletas, que por sua vez cooperam com o aquecimento da superfície terrestre. Cada ação tem uma consequência, como uma história que se costura.
Nessa narrativa, vilões e mocinhos se confundem.
Como reter o carbono e dar novos rumos para essa história
Se a história contada no trecho acima permanecer, estamos fadados a um final não tão feliz. Por isso, precisamos imediatamente mudar os rumos para construir um futuro de maior equilíbrio entre pessoas e ambiente.
Há várias formas de evitar que o gás carbônico seja liberado. A primeira e talvez a mais simples é parar com atividades que gerem mais emissão desse gás danoso. Como isso se torna inviável para as bases industriais e capitalistas que geram as nações, o acordo tem sido pela diminuição das emissões.
Volta e meia, governantes se reúnem para renovar os compromissos de diminuição das emissões de CO2, como aconteceu na COP 26, no Reino Unido, meses atrás. Como ficou marcado no discurso de Greta Thunberg, ativista pelo meio ambiente, é preciso um compromisso para além de um “blá blá blá” das nações.
Por isso, outra atividade de combate ao aquecimento global é aumentar a vegetação no planeta, garantindo que o carbono fique retido nas plantas e não seja lançado na atmosfera. O manejo de florestas é um importante aliado.
Os oceanos também podem atuar na linha de frente desse combate. O chamado “carbono azul” é o termo que se refere à captura de carbono por algas marinhas. O cultivo de algas em determinadas regiões pode não apenas ajudar nesse processo, mas também colaborar com a restauração de alguns ecossistemas. Porém, como qualquer intervenção ecológica, é preciso estudo para que não haja qualquer desequilíbrio.
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